Egito: Navegando no Nilo até a Ilha Elefantina

Descobrindo as feluccas das águas do Nilo


A Ilha Elefantina fica na cidade de Aswan, no sul do Egito, bem no meio do Rio Nilo. Não é muito extensa (possui 1.500m x 500 m), podendo ser percorrida a pé. Hoje a ilha é local de morada de descendentes dos núbios, e possui sítios arqueológicos do Egito Antigo. Para chegar lá não existe ponte, o jeito é pegar uma embarcação regional se você não faz parte de algum cruzeiro. Como eu não sabia muito bem como chegar lá de barco, passei alguns perrengues no caminho...


POR QUE "ELEFANTINA"?

Essa é primeira questão: havia elefantes lá? A resposta é não! O nome é recente, de origem grega, e significa "cidade dos elefantes", mas não se sabe a origem. Alguns acreditam que ali se realizava comércio de marfim, outros acreditam que o nome vem das rochas da ilha que tem formato de elefantes. Na época do Egito Antigo, a ilha era chamada Abu ou Yebu que também significa elefante!!! Depois da ocupação árabe, alguns chamavam de Ilha das Flores.


COMO CHEGAR LÁ?

Para chegar na ilha só de barco. Ao pesquisar, a única explicação que consegui era que os barcos podiam ser tomados na Kornish (?). Pois é, a Kornish é a avenida "litorânea" de Aswan, logo eu acreditei que o lugar ideal seria o porto próximo ao centro, por ter mais opções e possibilidades de conseguir descontos. Fui andando até lá e, depois de negociações (não tem como fugir disso nos países árabes) consegui uma "felucca" por 30 EGP (cerca de R$10). Mais tarde eu descobriria que naquele local eu ficaria no perrengue e que havia um jeito mais prático de chegar na ilha (no final do post eu explico).

Foi perto desse quiosque onde funciona um MacDonalds que embarquei na felucca


UMA NAVEGAÇÃO INESPERADA

Uma das tradições que permanecem no sul do Egito é o uso de "feluccas". Primeiramente vou explicar o que é isso: Felucca é um antigo barco à vela tradicional de madeira usado em águas resguardadas do mar. Se tornou um barco ultrapassado com os atuais barcos a motor e ferryboats. Ainda é encontrado em Malta, Sicília, Iraque, Sudão e particularmente no rio Nilo. O nome é de origem árabe.

Feluccas nas navegam nas margens do Rio Nilo


Usar um barco à vela para atravessar até a ilha perecia tranquilo, até aí tudo bem! O valor cobrado varia, mas o preço justo é de 30 a 40 EGP a hora (agosto de 2014). Para chegar até o barco do indivíduo que fechei negócio, fui passando por cima de outros, com tripulação, até chegar num barco vazio. Achei estranho, mas como eu não sabia como funcionava, sentei e esperei a travessia.

O barqueiro preparando sua felucca para zarpar sem tripulação 


Alguma coisa não estava certa naquele barco sem tripulação...


... aliás, a única companhia do barqueiro era essa cabeça macabra na proa


Foi então que o barqueiro começou a remar... é, do mesmo jeito que se rema num barco a remo. O vento não era suficiente para utilizar as velas. Eu não acreditava, um barco daquele tamanho sendo remado por uma única pessoa, e não bastava fazer a felucca deslocar, ele tinha que vencer a correnteza do Rio Nilo. Aquilo me lembrava a cena dos escravos romanos do filme Ben Hur, sendo executada por um único homem.

O barqueiro remava a felucca sozinho, algo desconfortável de assistir 


MARGEM DIREITA

O porto de Aswan foi se afastando e era possível ter uma vista privilegiada a partir do meio do rio. A cidade fica na margem direita, pois o rio desce do sentido "centro da África > delta do Nilo (direção do Mediterrâneo)". Era possível ver os prédios desgastados, os cruzeiros atracados, mesquitas e até a imensa Catedral Copta Ortodoxa de São Miguel Arcanjo.

Um passeio pela águas do famoso Rio Nilo


A Catedral Copta Ortodoxa de São Miguel Arcanjo se destaca no relevo de Aswan


Um barco a motor sendo abordado por crianças pedindo dinheiro


A mesma dupla de crianças tomou o rumo da minha felucca para tentar a sorte


A felucca passa pela ponta da ilha onde está o Mövenpick Resort Aswan, um luxuoso hotel


MARGEM ESQUERDA

Na mitologia do Egito Antigo, as terras do lado direito do Nilo são destinadas aos templos dedicados à vida e o lado esquerdo aos templos dedicados à morte, por isso as tumbas, complexos funerários e pirâmides estão desse lado. Em Aswan não é diferente, e durante a navegação é possível observar tumbas cavadas na rocha e ruínas de mausoléus, sendo o mais famoso o de Aga Khan, uma dinastia nobre da região.

A margem esquerda é repleta de ruínas antigas


Tumbas cavadas nas rochas da margem esquerda de Aswan


Alguns mausoléus foram construídos no alto, sendo possível ver desde a cidade


Mausoléu de Aga Khan


UMA CARONA COM MOTOR

Em direção ao porto de Elefantina, o vão entre outra ilha chamada Kitchener ficou estreito, logo a velocidade da água era maior. Isso dificultava ainda mais o barqueiro. Eu me sentia angustiado em ver o esforço que o homem fazia remando contra a correnteza. Foi então que um barco a motor passou e ofereceu uma "carona" para a felucca. Ele amarrou uma corda e foi puxado até chegar numa atração localizada na margem esquerda e que eu desconhecia: um Jardim Botânico em pleno deserto.

Um barco com motor que seguia para o jardim Botânico


O barco seguia em direção a ilha de Kitchener, que fica do lado de Elefantina


Aqui está o Jardim Botânico de Aswan


A ILHA ELEFANTINA

A minha escolha de pegar uma felucca acabou me atrasando, pois demorou cerca de uma hora para atravessar o Nilo, mas enfim o barco chegou no porto da aldeia núbia. Na hora de pagar o barqueiro que ralou por uma hora para receber o equivalente a R$ 10 (30 EGP), acabei amolecendo o coração e dei o dobro. O homem ficou tão feliz que resolveu me levar atá meu destino na ilha: o Museu de Aswan. O museu estava fechado, não sei por qual motivo pois estava no horário normal de funcionamento, mas a viagem até ali já valeu a pena.

No porto da aldeia haviam várias feluccas rústicas dos regionais


O caminho até o museu pelo interior da aldeia


A aldeia é aquele lugar "não turístico" que ainda guarda a essência da cultura núbia


A ilha é praticamente dividida em 3 partes: A parte sul, onde estão as ruínas arqueológicas e o Museu de Aswan; a parte parte central, onde existem 3 aldeias de descendentes núbios; e a parte norte onde está o resort Mövenpick.

Mulheres núbias da aldeia lavam as roupas na beira do rio


O Museu de Aswan funciona diariamente de 8h às 17h (no ramadan, 9h às 15h)


Na mitologia do Egito Antigo, a ilha era relacionada a Khnum, o deus com cabeça de carneiro, que formava uma trindade com deusas Satet e Anuket na ilha. Essa característica egípcia de associar deuses em tríades foi herdada, mais tarde, por outras religiões mais recentes, uma delas a católica.

Ruínas arqueológicas de Elefantina


As torres da catedral copta ficam visíveis da ilha


E lá estava o lendário hotel Old Cataract, onde eu estava hospedado


RETORNO PARA ASWAN

No final, eu descobri qual era a maneira rápida e econômica de atravessar para a Ilha Elefantina. Quase em frente ao Museu de Aswan, estava um rústico terminal para esperar o ferry (que não passava de um barquinho a motor) que fazia a travessia até Aswan. Custava apenas 2 EGP por pessoa (menos de R$1). A chegada é num pequeno porto na parte baixa do calçadão da Kornish, bem próximo ao Hotel Old Cataract. Apesar de ter perdido um tempo valioso na travessia de ida, nada acontece por acaso, e eu tive experiências únicas e vistas sensacionais. Valeu a pena!


Terminal do ferry de Elefantina até Aswan


Na hora do embarque, homens e mulheres ficam separados no ferry



Localização do porto na Kornish para pegar o ferry com destino a Elefantina


CUSTOS (agosto 2014)

- Passeio de felucca (+ gorjeta) - 60 EGP
- Ferry para Aswan - 2 EGP


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.