Uma cidade de arquitetura histórica manchada pelo comunismo
A última etapa do mochilão seria no mesmo ponto de chegada do relato no post Moldávia e outros perrengues no início do mochilão na Ucrânia e Romênia. Dessa vez eu iria encarar o calor do verão de Bucareste, já cansado depois da longa jornada que havia percorrido até ali. Bucareste não é uma cidade tão antiga para os padrões europeus, mas guarda uma história interessante sobre o regime comunista que governou o país no século 20. Com um Arco do Triunfo e avenidas largas como a Champs-Élysées, a cidade já foi apelidada de pequena Paris do Leste Europeu.
COMO CHEGAR?
Cheguei em Bucareste de trem vindo da cidade de Sibiu, na Transilvânia. A estação de trem Gare de Nord é bem acessível através da rede de metrô. Existem quatro linhas (M1, M2, M3, M4) que cobrem boa parte da cidade e a passagem é barata, sendo 5 Lei para 2 viagens (não vende unitário), 20 Lei para 10 viagens e 70 Lei por uma passagem mensal (agosto 2017).
Chegada na estação de trem Gare de Nord, em Bucareste
Mapa do metrô de Bucareste (clique para ampliar)
Ao desembarcar, aproveitei para comer na própria estação de trem que possui uma padaria com pães recheados muito baratos, em torno de 3 a 4 Lei. Ainda sentei para comer nas cadeiras do KFC, que aliás, tem uma novidade na Romênia: uma pizza totalmente de frango, a Chizza. Fiquei hospedado em Bucareste no The Cozyness Hostel, a cerca de 1 km da Piata Unirii, no centro.
Chizza, a novidade que custa 18 Lei na Romênia
Pão recheado com presunto e queijo por 3 Lei
ROTEIRO DE 3 DIAS EM BUCARESTE
Eu teria 3 dias para explorar a capital romena e resolvi começar pegando o metrô para a parte mais distante e voltar andando. Do Parque Herastrau até a Piata Unirii são cerca de 7 km. É nessa rota onde estão as principais atrações da cidade.
DIA 1
PARQUE HERASTRAU
Comecei a conhecer Bucareste pelo Parque Herastrau, ao norte da cidade, o maior parque da capital romena. Para chegar, basta pegar o metrô até a estação Aviatorilor onde há uma das entradas do parque. É um lugar agradável com parque de diversões, monumentos, pistas para pedalar e correr, além do grande Lago Herăstrău que permite passeios nas suas águas.
Bancos de praça com o nome da cidade para sentar e relaxar
Sacos plásticos grátis para coletar cocô de cachorro
Um viveiro com um tipo de pavão romeno
Monumento aos Fundadores da União Européia que fica na ilha Trandafirior do parque
O parque abrange 110 hectares, dos quais 74 hectares são ocupados pelo lago Herăstrău
Patos vivendo livres no lago
ARCO DO TRIUNFO
Em frente a uma das saídas do Parque Herastrau está o Arco do Triunfo, uma cópia romena do famoso arco de Paris. Antes desse monumento havia um arco de madeira naquele local, construído improvisadamente após a independência da Romênia (1878). Mais tarde foi feito um melhor para comemorar o término da Primeira Guerra Mundial (1922). Foi em 1936 que o arco com a bela arquitetura atual foi construído.
O Arco do Triunfo romeno tem 27 metros de altura
Vários artistas famosos do país trabalharam na arte do monumento
Acontecem desfiles militares sob o arco no feriado nacional de 1 de dezembro
PARQUE KISELEFF
A partir do Arco do Triunfo, voltei em direção ao centro andando pela calma Avenida Pavel Kileseff, rodeada pelo Parque Kiseleff que é um dos mais antigos de Bucareste, inaugurado em 1847. É uma área arborizada com bustos de personalidades romenas importantes e esculturas contemporâneas. Próximo ao Parque está o metrô de Piata Victoriei e três museus: o Museu de História Natural, o Museu dos Camponeses Romenos e o Museu Nacional de Geologia (que eu resolvi entrar por curiosidade).
Bustos de personalidades e esculturas contemporâneas no parque
É possível encontrar tabuleiros de xadrez e mesas de ping pong públicas
MUSEU NACIONAL DE GEOLOGIA
Sempre me interessei por formações rochosas e fósseis pois são provas de um passado do planeta sem humanos para contar história. Por isso resolvi entrar neste museu que possui uma coleção de 80 mil amostras de rochas, fósseis e minerais da Romênia. Era bem maior do que eu pensava, uma apostila viva de geologia! Funciona diariamente de 10h00 às 18h00 e a entrada custou 8 Lei. Mais informações no site do museu: http://www.geology.ro/
O museu está sediado num edifício histórico de 1906
Parece um asteroide, mas é uma rocha formada por areia terráquea mesmo
O salão dos minérios é um dos mais interessantes do museu
É cada pedra diferente que não dá para acreditar!
Rocha sedimentar com um formato inesperado devido à desidratação
O segundo andar é o local dos fósseis
Representação de um dinossauro que viveu na área da Romênia
Representação de um ancestral do ser humano
Fósseis de antigos serem marinhos
Partes do fóssil de um autêntico mamute
PALÁCIO CANTACUZINO
Segui descendo pela Calea Victoriei, a avenida mais sofisticada da cidade, até passar em frente ao Palácio Cantacuzino. Foi construído por Gheorghe Cantacuzino, prefeito de Bucareste e ex-primeiro ministro na época. Mais tarde, seu filho Mihail Cantacuzino herdou, mas também morreu prematuramente. A esposa de Mihail, Maria, se casou novamente com o compositor de música George Enescu. Após a morte de Enescu em 1955, sua esposa o transformou no Museu Nacional George Enescu.
Construído entre 1901 e 1903, hoje abriga o Museu Nacional George Enescu
Igrejinha na Calea Victoriei
ATHENEUM ROMENO
Uma das principais atrações da cidade também está na Calea Victoriei. É o Atheneum onde funciona a Orquestra Filarmônica George Enescu. É um símbolo da cultura romena e foi inscrito em 2007 na lista de lugares de Patrimônio Europeu. Presenciei vários casais de noivos fazendo um "book" nos jardins do Atheneum. Não cheguei a entrar no seu interior que possui um afresco que retrata cenas da história da Romênia (75 x 3m!).
Também chamado de Romanian Athenaeum, é um dos edifícios mais bonitos de Bucareste
O Atheneum foi inaugurado em 1888
DIA 2
MONUMENTO ANTI-COMUNISTA
Comecei o segundo dia retornando para a área do Parque Herastrau, dessa vez na altura da Praça Presei Libere (imprensa livre) onde está a Casa da Livre Imprensa (chamada Casa de Scînteii durante o período comunista). Possui arquitetura comunista dos primeiros anos do sistema, no final da década de 1940 e 1950, e tinha a função de abrigar e controlar toda a impressa de Bucareste, as salas de redação e seus funcionários. Em 1989, com a revolução anti-comunismo, uma estátua de Lenin que havia naquele local foi derrubada e hoje existe no lugar um monumento em memória do regime que assolou o país.
Cartaz de um tour oferecido que explora o passado comunista da cidade
Arranha-céus na Praça Presei Libere
Havia uma estátua de Lenin no local onde agora está o monumento
Monumento anti-comunismo com um prédio capitalista construído ao lado
A Casa da Imprensa Livre segue a arquitetura stalinista soviética do "Realismo Socialista"
TUMBA DO DRÁCULA
Próximo da Praça Presei Libere, embarquei numa van para a cidade de Snagov, a 40 km de Bucareste, em busca do local da tumba de Drácula. O relato completo e as imagens dessa aventura estão no post A Tumba de Drácula no Monastério de Snagov.
Tumba de Vlad Tepes, o Drácula, localizado em um monastério de Snagov
Após visitar a tumba do Drácula e retornar, passei para conhecer o Hard Rock Cafe Bucareste, que fica perto do terminal de transporte público de onde as vans saem e chegam de Snagov. Ele fica dentro da área do Parque Herastrau. Aproveitei para voltar por dentro do parque e conhecer algumas áreas que eu não tinha visto no primeiro dia como o porto de saída dos passeios de barco pelo Lago Herastrau e os preparativos para um show público, com palco montado, que haveria no parque.
Hard Rock Cafe Bucareste
Iate Clube do Parque Herastrau
Aproveitei o tempo e fui visitar a loja Decathlon de Bucareste. Existem 4 lojas dessas espalhadas nos quatro cantos da cidade, mas eu fui na loja da Boulevard Pallady que fica perto da estação de metrô Nicolae Teclu. É claro que eu não resisti e acabei comprando coisas que não tem no Brasil.
Setor de Caça e Pesca com vários itens que não tem no Brasil
PRAÇA DA REVOLUÇÃO
Retornei ao centro de Bucareste, num local bem perto do Atheneum, conhecido como a Praça da Revolução (Piata Revolutiei). Foi o lugar onde ocorreu a violenta Revolução romena, em dezembro de 1989. A revolta civil começou na cidade de Timişoara e se espalhou por todo o país, acabando no julgamento e execução do ditador comunista Nicolae Ceauşescu e sua esposa Elena, depois de 42 anos de governo comunista na Romênia.
Monumento do Renascimento (Rebirth Memorial) em memória dos que morreram na revolução
Museu Nacional de Arte da Romênia, em frente
A gigante estátua equestre do Rei Carol I da Romênia é na verdade uma cópia da original, destruída em 1948 pelo governo comunista. Em 2005, o ministro da Cultura da Romênia decidiu recriar a estátua destruída.
Estátua de Carol I reconstruída em frente à biblioteca universitária
Arquitetura dos arredores da Praça da Revolução
Igreja do centro antigo, já chegando pela noite
DIA 3
CENTRO ANTIGO
Deixei as minhas última horas em Bucareste para passear nas ruas de seu centro histórico, ou pelo menos o que restou dele após o projeto do ditador Nicolae Ceauşescu que destruiu o centro antigo, numa área equivalente à cidade de Veneza, para construir edifícios novos, que formariam o chamado Centro Cívico, e substituiria a arquitetura antiga por blocos de apartamentos de alta densidade no estilo comunista.
A bela Basílica Sfântul Anton
Ruínas da Corte Velha (Curtea Veche) dos antigos príncipes da Valáquia
Cruz com inscrições medievais
As demolições ocorreram a partir dos anos 80, depois de um terremoto em Bucareste (1977), com a desculpa do projeto de reurbanização. Foram mais de 10 mil prédios e casas, além de 20 igrejas e sinagogas, sem falar das 57 mil famílias removidas. Oito igrejas foram deslocadas de lugar através da engenharia que as moveu sob trilhos. O terreno foi nivelado e construído um enorme boulevard, inspirado na Champs-Élysées, cercado de edifícios no estilo Stalinista para abrigar a elite do partido comunista. Este seria o "Boulevard da Vitória do Socialismo".
Palace of the Deposits and Consignments, foi a sede do banco mais antigo da Romênia
Estátua em frente ao Museu Nacional de História da Romênia
Monastério Stavropoleos
Até o bueiro é estilizado em Bucareste
Mas uma parte do centro antigo de Bucareste não foi demolido. Alguns edifícios do século 19, ruínas medievais da Valáquia, igrejas, sede do banco e hotéis ainda permanecem lá. Após a queda do comunismo essa área foi restaurada e agora é um lugar turístico com bons restaurantes e agito noturno.
Palácio Camerei de Comerț
Basílica Sfântul Gheorghe Nou
Afresco da Basílica representando o inferno, cena comum nas igrejas ortodoxas
Esse antigo edifício sobreviveu ao projeto de Ceauşescu
Blocul Adriatica-Trieste, de 1926
PALÁCIO DO PARLAMENTO
O plano de Nicolae Ceauşescu era muito maior do que apenas demolir o centro histórico de Bucareste. Em 1984, foi construído o Palácio do Parlamento, chamado de Casa Poporului (Casa do Povo) apesar de ter sido feito numa época em que o povo passava fome no campo. Ceauşescu teria visitado a Coreia do Norte e se encantado com a arquitetura comunista dos edifícios utilitários. Após a queda do ditador, em 1989, apenas 80% aproximadamente do edifício havia sido construído, mas a obra foi embargada por ser muito onerosa para os cofres públicos.
O Palácio do Parlamento abrange 12 andares, 3.100 quartos e cerca de 365.000 m2
Este seria o "boulevard da Vitória do Socialismo", mas o socialismo não deu certo
O Palácio do parlamento de Bucareste está no Livro dos Recordes como o maior edifício administrativo civil do mundo (em tamanho total, só perde para o Pentágono nos EUA que é militar). Também é o edifício mais pesado do mundo com tanto mármore. É possível visitar o interior do Palácio com diversas categorias de tours, de 30 a 45 minutos, saindo a cada meia hora, cuja entrada fica na parte norte do edifício.
O centro cívico de Bucareste foi inspirado na arquitetura norte-coreana
PARTIDA DE BUCARESTE
Na tarde do terceiro dia em Bucareste, fechei minha hospedagem e segui de ônibus para o aeroporto, a partir da Piata Unirii. As linhas funcionam de 5h30 às 23h, sendo que o ônibus parte a cada 20 min (manhã) e 40 min (noite). Para embarcar é preciso comprar o cartão num guichê perto do embarque (não se paga direto ao motorista). O cartão custou 8,60 Lei (agosto de 2017). O ônibus para o aeroporto é da linha 780. Veja a localização do ponto de ônibus aqui no Google Maps. Era o final da minha aventura por essa parte do Leste Europeu.
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MEU ROTEIRO
Anterior: SIBIU
Roteiro completo: MISSÃO UCRÂNIA-ROMÊNIA
Próximo: TUMBA DO DRÁCULA
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