ASSIS

A origem dos franciscanos

JORNADA FRANSCISCANA

Segui rumo à Assis (Assisi, em italiano) esperando pernoitar por lá para conhecer a cidade pela manhã. Ao se aproximar da cidade, já se vê a monumental Basílica de São Francisco. Segui o GPS e acabei dirigindo na área de trânsito restrito de veículos. Quando me liguei, saí de lá, mas até agora não sei se fui multado (tenho um ano pra descobrir se a multa vai chegar).

Vista de Assis a partir da autoestrada

A parte histórica de Assis fica no alto, longe da estação de trem


Estacionei num canto que encontrei e subi a ladeira a pé para chegar na cidadela que fica no alto da colina. Para quem chega na cidade de trem, é um pouco mais complicado. Diferentemente de outras cidades da Itália, seu centro histórico fica distante da estação de trem. Mais a frente explico onde fica.

Achei esse canto na Strada Comunale Vecchia para estacionar e passar a noite

 Brasões que marcam a entrada da cidadela

Porta San Francesco


MUSEU MISSIONÁRIO DA AMAZÔNIA 

Pois é, você não leu errado e eu não estou louco, existe um museu da Amazônia em plena cidade de Assis.

Como já estava escurecendo e as basílicas já haviam fechado, deixei para conhecê-las no dia seguinte pela manhã. Passei apenas na frente do santuário e segui andando pela Via San Francesco, a principal da cidadela. Logo de início já encontro a presença do Brasil através de nossa bandeira na fachada de um prédio. Era a sede do Centro Missionario Frati Minori Cappuccini in Amazzonia (isso! com 2 Z!) que possui um museu aberto de 10h às 18h30 (Ter a Sex, mas no sab-dom também funciona com intervalo de 30min a partir de 12h15).

 De longe algo me chamou a atenção, lá estava a nossa bandeira

A descrição do museu no site: Apaixonado pela Amazônia e por tudo o que ela oferecia, construiu o “Museu dos Índios da Amazônia” com as doações que os missionários lhe traziam nas idas e vindas entre o Alto Solimões e Assis: animais empalhados, borboletas, instrumentos musicais, máscaras e artesanato de todos os tipos. Por ocasião dos 100 anos de presença missionária capuchinha na Amazônia ocidental, a Província Seráfica da Úmbria decidiu ressaltar o valor da missão requalificando o “Museu Etnográfico”: transforma-o no primeiro museu missionário multimídia e interativo da Europa graças a soluções tecnológicas de alto nível; quatro andares de instalações, com mapas animados, projeções, personagens virtuais e dois grandes dioramas na escala 1:1.
 
 Encontrei a Amazônia em plena cidade de Assis, na verdade, a AmaZZonia (!)

É até legal ver o Brasil sendo representado em todas as partes do mundo, mas dessa vez encontrei a sede de uma missão estrangeira que deve ser mais um dos exemplos de descaso do governo com nossa floresta. Mais um grupo estrangeiro com atividades dentro de um território brasileiro não controlado pelos governantes. Não desmerecendo o trabalho desses frades, mas eu que passei 8 anos vivendo na Amazônia, sei que ela é mais estrangeira do que nossa no sentido político. Na prática, a Amazônia ainda só é nossa de verdade por causa dos militares que lá trabalham, mas isso é outra história... só um desabafo.

Panfleto de um dos eventos no centro missionário

Para saber mais sobre o museu e o trabalho do grupo missionário, acesse o site da instituição aqui.


CIDADELA NOTURNA

No caminho das ruas já desertas pelo cair da noite e com o frio chegando, cheguei na Piazza del Comune, com bela arquitetura como o Templo de Minerva, chafarizes, restaurantes e bares ainda abertos para a cena (jantar, em italiano). Andando mais, se chega na Basilica de Santa Clara, que além de ser bonita, ainda permitia uma boa vista da Catedral de São Rufino que fica no alto e recebe iluminação à noite.

Ruas e becos que fazem o clima medieval de Assis

Templo de Minerva

Chafariz da Piazza del Comune

 A arquitetura continua imponente e bem preservada

 Basílica de Santa Clara

Estátuas que homenageiam os pais de São Francisco

Neste beco, alguns afrescos antigos

Uma escola franciscana

As basílicas de São Francisco fazem um espetáculo de iluminação a noite

Andar pelas ruas irregulares e desertas da Idade Média é como voltar no tempo

Para terminar a noite, uma lasanha ao molho ragu (seria o que chamamos de molho à bolonhesa) de jantar próximo a Piazza del Comune. Acompanhando o prato pedi um vino rosso (vinho tinto). Uma dica para comer na Itália é pedir sempre o vinho da casa. Geralmente é o mais barato. Aliás, na Europa é possível beber vinho mais barato do que água e de boa qualidade. 

Um vinho da casa para fechar o dia



PERNOITE ECONÔMICO AO MEU ESTILO 

A noite ficou fria e fui me refugiar no carro. Como eu estava pagando 70 euros de diária do carro, eu teria que economizar em outra coisa, nada melhor do que na hospedagem para dormir, logo juntei as coisas e dormi ali no carro mesmo. Achei um local bem próximo do centro histórico e que não há restrição de estacionamento, ou seja, 0800 (grátis).

Se alguém resolver fazer a mesma loucura que eu, recomendo estacionar num canto no início da Strada Comunale Vecchia, antes da placa de acesso restrito. Na dúvida, procure no Google Maps. Dali dá pra subir a ladeira andando e conhecer a cidadela, entrando pela Porta San Francesco. 

Vista da Basílica iluminada da Strada Comunale Vecchia

Não é qualquer um que tem essa vista do local de hospedagem, tive sorte de achar rs

Já forrando a cama da minha suíte 5 estrelas


BASÍLICAS SUPERIOR E INFERIOR 

A entrada nas basílicas é grátis e funcionam conforme os horários abaixo:

- Basílica Inferior e Tumba de São Francisco – 06h às 19h, diariamente.

- Basílica Superior – 08h30 às 19h, diariamente.

Pela manhã fui explorar o interior das basílicas. A Basílica Superior é localizada, como o nome diz, na parte de cima. Como as basílicas se conectam, visitei toda a imponente igreja, totalmente vazia naquele horário, e desci a escada ao fundo em direção a Basílica Inferior.

As basílicas são juntas mas distintas: Inferior e Superior

Fachada da Basílica Superior de São Francisco

Como na maioria das igrejas medievais, vários seres monstruosos observam os visitantes

Interior da Basílica Superior

Teto da igreja repleto de arte

Na Basílica Inferior está o museu de objetos sagrados de São Francisco, dentre eles roupas utilizadas pelo santo e até seus sapatos (nem tão parecidos com as sandálias franciscanas). Fotos por ali são proibidas. 


TUMBA DE FRANCISCO 

No subsolo da Basílica menor está o mausoléu que guarda o corpo de Francisco, o fundador da fraternidade franciscana.

É um lugar de silêncio e oração para os fiéis. A descida para a tumba é sinalizada na igreja, ficando à esquerda de quem entra na porta principal. 

 No subsolo da Basílica Inferior está o túmulo de São Francisco de Assis


A LENDA DE FRANCISCO 

Filho de pais burgueses de origem francesa, foi batizado como Giovanni (João, em português). A origem do nome Francesco (Francisco, em português) é incerta, dizem que o garoto passou a ser chamado assim pelo pai após ter viajado para a França e se maravilhado com aquela cultura. Francisco era um jovem aventureiro, muito popular entre os amigos, mas principalmente pela sua rebeldia, extravagância, bebedeira, gosto por roupas de marca (se é que isso existia), mas mesmo assim era bondoso.

 São Francisco de Assis, o protetor também dos animais

Em 1202, se alistou como soldado na guerra entre Assissi e Peruggia e acabou sendo feito prisioneiro por 01 ano. Em 1205, voltou a ser soldado e entra em guerra por causa de um sonho que teve, porém, em seguida, teve outro sonho que lhe explicou: Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste. 

Diz a lenda que durante uma algazarra com os amigos, Francesco teria sido tocado pelo divino e, a partir dali, deixou de ter esses tipos de interesse. Será resultado da cachaça? Não se sabe. Até que um dia estava orando em Porciuncula, uma pequena capela que possuía uma cruz com a pintura de Jesus, quando teria recebido um abraço de uma das mãos desse desenho de Jesus que teria lhe pedido para reformar a igreja. 

Francisco em um dos sonhos com Jesus

Para obter dinheiro rápido para a reforma da Igreja, Francisco pegou alguns tecidos caros da loja de seu pai e vendeu por preços baixos no mercado da cidade. O pai enfurecido com a situação procurou por ele que se escondeu num celeiro. Mais tarde algumas pessoas o tomaram por vagabundo e lhe lançaram pedras. O pai de Francisco o colocou pra dentro de casa, mas o acorrentou, sendo libertado somente pela sua mãe e refugiou-se junto ao bispo da Igreja. Quando seu pai foi persegui-lo, retirou suas vestes caras e entregou ao pé do pai, recusando sua herança. Começou sua nova vida de pobreza completamente nu.

Mais tarde fundou a Ordem Mendicante dos Frades Menores ou Ordem Franciscana como é mais conhecida, algo que revolucionava as ideias da Igreja Católica e que, na minha opinião, foi aderida por ela por causa da força da influência que essa nova doutrina tinha nos fiéis.  

Minha análise histórica é que os franciscanos tinham uma doutrina bem diferente da então Igreja Católica que ostentava o poder. A Ordem Franciscana era uma religião bem distinta, pregava o afastamento das riquezas materiais e investia na caridade e no conhecimento científico. Isso mesmo, muitos frades franciscanos foram considerados excelentes cientistas. Essa nova religião cristã, que obtinha cada vez mais adeptos, seria nociva ao Império Católico, qual a solução? Assim como o Imperador Constantino aderiu ao cristianismo para sustentar o poder do Império Romano, a Igreja Católica teria feito o mesmo, anexou essa religião. Exemplo disso é a denominação de "frade" e não "padre" para os ministros religiosos franciscanos, distinção que se faz até hoje. Se não pode com eles, junte-se a eles.



TEMPO DE CONTINUAR O CAMINHO 

Ao término das explorações nesta terra que surgiu um ícone na Igreja Católica desde Jesus, era hora de seguir caminho. Dessa vez o objetivo era chegar numa cidade antiga e bem tranquila, apesar do tamanho.

Saiba mais em: Arezzo 




GASTOS (abril 2014) 

- Jantar (lasanha) – 11 euros
- Café da manhã – 4 euros 

LINKS ÚTEIS 

Basílica e Sacro Convento de São Francisco de Assis - http://www.sanfrancescoassisi.org/SF2004/PAXMUNDITextEnEsItDef1.htm 



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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.