Cuba: Santa Clara, a cidade que guarda a tumba de Che Guevara

Palco de acontecimentos históricos que decidiram a Revolução Cubana


Santa Clara seria a cidade menos atrativa do meu roteiro se alguém avaliasse do ponto de vista das atrações arquitetônicas ou paradisíacas. Mas no meu ponto de vista, esta seria a cidade que havia a maior expectativa de conhecer. Não pelas belezas (pois é uma cidade grande sem muita coisa preservada), mas pelos acontecimentos históricos que ocorreram lá e que marcaram a Revolução Cubana que transformou o país no que é hoje.


COMO CHEGAR?

Fui para Santa Clara a partir da cidade de Trinidad em um táxi coletivo (15 CUC) no qual viajei por 120 km em duas horas numa estrada sinuosa. Também é possível ir de ônibus Viazul saindo às 7h30 (chega 10h15) e 13h55 (chega 16h55).

 
Chegada em Santa Clara


ONDE FICAR?

Fiquei hospedado no Hostal Cuba 215 (link no Booking.com) que, na verdade, como todas as hospedagens assim em Cuba, é uma casa particular. É um ambiente bem limpo, organizado e silencioso, administrado pelo proprietário e pelos filhos. O preço do quarto duplo era 24 CUC (abril 2019) com café da manhã. A casa fica a 400 metros da praça principal (Parque Leoncio Vidal). Ainda emprestaram um mapa da cidade que facilitou o deslocamento.

Casarão do Hostal Cuba 215


PARQUE LEONCIO VIDAL

Comecei a caminhada passando pela praça central da cidade onde estão as principais construções históricas e que possuem as melhores condições de preservação. Os principais edifícios são os hotéis Santa Clara Libre e Central. Bom lugar para fazer fotos pois é o único ponto da cidade com as fachadas restauradas.

As construções do Parque Leoncio Vidal estão restauradas


Fachada do Hotel Central


E na praça, a propaganda comunista ainda é realidade


MAUSOLÉU DE CHE GUEVARA

Meu principal objetivo na cidade de Santa Clara era visitar o local onde Che Guevara estava sepultado. Caminhei por cerca de 2 km para chegar no monumental mausoléu que guarda os restos mortais e a memória do revolucionário argentino que marcou a história de Cuba. O Memorial Comandante Ernesto Che Guevara foi levantado após seus restos mortais terem sido recuperados da Bolívia na década de 1990. Che morreu lutando na guerrilha em 1967 ao tentar implantar o regime comunista na Bolívia. O complexo do mausoléu inclui túmulos de revolucionários que lutaram em Santa Clara e um museu com objetos de trabalho e de uso pessoal de Che. O acesso não é cobrado.

Che Guevara fez história em Santa Clara na Revolução Cubana


Não é permitido fotografar no interior do mausoléu e nem no museu. Para entrar, tem que deixar a bolsa no guarda volume perto do estacionamento (grátis). Existem relatos de que o museu fecha em dias chuvosos para evitar que a umidade deteriore o acervo.

Guarda volume na entrada do memorial


Maquete descrevendo a atuação da guerrilha comandada por Che


As plaquinhas mostram a organização da base de guerrilha na selva


O museu não é grande, mas exalta bem a figura de Che Guevara. A área da tumba é climatizada e, quem é muito fã, pode deixar flores. Acima do mausoléu está o monumento com a bandeira de Cuba e uma imensa estátua de Che Guevara. Aos seus pés está a frase atribuída: "Hasta la victoria siempre" (Até a vitória, sempre). Ainda no monumento, existem relevos e textos descrevendo a atuação de Che na guerrilha de Santa Clara onde obteve uma vitória chave para o sucesso da Revolução Cubana.

Monumento em homenagem à Che Guevara


Textos e relevos descrevendo os feitos de Che em Cuba


Na parte de trás, a descrição da trajetória de conquista dos revolucionários


No fundo do complexo estão as sepulturas dos revolucionários


MUSEU DA AÇÃO CONTRA O TREM BLINDADO

Não foi por acaso que a cidade de Santa Clara foi escolhida para a construção do mausoléu de Che Guevara. O guerrilheiro liderou os revolucionários daquela cidade para a vitória. Depois que Fidel Castro conquistou Santa Clara, o ditador Fulgêncio Batista enviou um trem blindado de Havana, em 23 de dezembro de 1958, transportando 373 soldados com armas e munição, além de provisões para dois meses. No dia seguinte, o trem chegou a Santa Clara e parou no sopé da colina Loma del Capiro. Três dias depois, 18 guerrilheiros sob o comando de Che Guevara fizeram um ataque ao trem. Os oficiais tentaram mover o trem para uma posição mais segura, porém Che planejou uma sabotagem destruindo 30 metros de trilhos e isso descarrilou o trem. Depois de horas no combate, os guerrilheiros conseguiram capturar as armas e as munições. À noite, a tropa de Batista se rendeu. Após essa vitória, os revolucionários seguiram para Havana e o ditador se exilou do país. Seria a vitória da Revolução.

Local de Santa Clara onde ocorreu o ataque ao trem blindado


Hoje, o lugar do combate se tornou um museu a céu aberto


A entrada do Museu da Ação Contra o Trem Blindado custa 1 CUC para estrangeiros. Funciona de 9h às 17h30 (fecha aos domingos). As atrações são os vagões originais blindados que ainda exibem as marcas dos tiros. No interior dos vagões estão amostras de armamentos, objetos e painéis explicativos do evento.

Vagão original do trem blindado que combateu em Santa Clara


A linha férrea ainda funciona ao lado do museu


Painéis explicam a atuação de Che Guevara na ação contra o trem


Armamentos, fardamentos e objetos apreendidos pelos guerrilheiros


Capacete, marmita e lanterna usados pela tropa de Fulgêncio Batista


ESTÁTUA DE CHE GUEVARA

Continuei andando por cerca de 400 metros e cheguei no Comitê Provincial do Partido Comunista de Cuba (PCC). Para quem não sabe, no país existe apenas esse partido político. Em frente a esta sede regional do partido está uma estátua em tamanho real de Che Guevara levando uma criança nos braços. É a mais perfeita deste personagem histórico, sendo repleta de simbologias.

Sede regional do Partido Comunista de Cuba (PCC)


Imagens de Fidel e Raul Castro no cartaz ideológico


Estátua de Che Guevara na entrada do PCC


Che com uma criança no colo


Em partes da estátua estão símbolos subliminares


A tropa de Che saindo da fivela do seu cinto. Consegue decifrar?


LA BODEGUITA DEL MEDIO

Depois de caminhar por Santa Clara naquele dia quente, chegou a hora de descansar e se alimentar. Aproveitei para almoçar no tradicional La Bodeguita del Medio que também tem bares nas principais cidades turísticas, incluindo Havana. O estabelecimento fica perto do Parque Leoncio Vidal. Além de música cubana ao vivo, o bar tem a característica de permitir que os clientes escrevam mensagens na parede. Comi um prato bem servido de frango com arroz e feijão por 5 CUC e bebi um mojito por 2 CUC.

Hora do almoço no La Bodeguita del Medio


A parede é toda rabiscada, inclusive um brasileiro escreveu "Lula Livre" 😐


Achei um cantinho para registrar que @amochilaeomundo passou por ali


PARTIDA PARA CAYO SANTA MARIA

No dia seguinte, depois de um café da manhã bem servido no Hostal Cuba 215, fui tirar umas fotos na igreja histórica chamada Parroquia Santisima Virgen Madre del Buen Pastor (eita nome gigante!) na praça em frente. Enquanto isso, esperei o táxi que eu havia combinado no dia anterior com um taxista em frente ao terminal Viazul. O tempo passou e o táxi furou! Voltei para casa e o proprietário me ajudou acionando um amigo taxista que me levou para o próximo destino: Cayo Santa Maria!

Café da manhã no Hostal Cuba 215


Parque La Pastora, em frete ao hostel


Um ônibus estatal com a frase "gracias Fidel"


Parroquia Santisima Virgen Madre del Buen Pastor


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.